Não dá para negar a evolução dos macacos em Hollywood desde que "King Kong" aterrorizou o público pela primeira vez em 1933. Naquela época, o rei dos primatas era uma marionete coberta de pelos. Nos antigos filmes da série "Planeta dos macacos", os símios eram interpretados por atores fantasiados. Hoje é tempo de macacos digitais.
O longa-metragem "Planeta dos macacos: a origem", que estreou nos cinemas dos Estados Unidos nesta sexta-feira (5), apresenta chimpanzés, gorilas e orangotangos criados a partir de movimentos e expressões faciais de atores humanos, que são gravados digitalmente e então transformados em animação no computador. O resultado são primatas fotorrealistas.
A tecnologia é a mesma utilizada no gorila gigante de Peter Jackson no remake de 2005 de "King Kong". Andy Serkis, o ator que encarnava a criatura no filme de Jackson, aliás, é o mesmo que interpreta o chimpanzé protagonista do novo "Planeta dos macacos".
Serkis - que também viveu o personagem Golum, na série "O senhos dos anéis" - afirma que a tecnologia faz com que a experiência no set seja mais autêntica, especialmente quando precisa contracenar com o restante do elenco, que inclui James Franco, Freida Pinto e outros.
Durante as filmagens, no entanto, Serkis não chega a lembrar nem de perto um chimpanzé. Para dar vida ao personagem, o ator veste uma roupa colada na pele, cravejada de pontos que serão lidos pelas câmeras digitais. Diferentemente dos atores da versão original de "Planeta dos macacos", em 1968, Serkis tem maior liberdade de movimentos e expressões.
"[A versão original] tem realmente uma aparência fenomenal e icônica, mas eles tinham de se mover de um jeito falso e dar toda sua energia só para dar a impressão de vida àquelas máscaras de borracha", comenta Serkis, em referência aos atores do primeiro "Planeta...", vencedor do Oscar de melhor maquiagem na época.
"Esse é o tipo de coisa que a tecnologia de captura de performance elimina. Você não tem camadas e camadas entre você e o ato de atuação. Como ator, você tem liberdade total para mostrar o que está pensando e sentindo, e o que recebe de outro ator é completamente verossímil. É algo que sai do coração", filosofa.
Serkis comandou um grupo de atores e dublês cujas performances serviram de base para os cerca de 150 macacos que se tornam inteligentes depois de serem expostos a uma droga que está sendo testada para a cura do Mal de Alzheimer no novo filme.
O "Planeta..." original e a versão de Tim Burton, de 2001, mostravam macacos que tinham evoluído ao longo dos séculos até se tornarem criaturas pensantes e falantes que caminhavam com a coluna vertebral ereta, com proporções próximas do homem. Dessa forma, filmar com humanos vestindo fantasias de primatas fazia todo sentido.
Mas "Planeta dos macacos: a origem" apresenta os símios da forma que os conhecemos, que se movem sobre quatro patas, com pernas mais curtas e braços mais longos dos que os membros dos humanos. Atores fantasiados, portanto, não teria como simular realisticamente essas proporções - por outro lado, macacos de verdade não teriam como entregar as atuações espertas que os cineastas esperavam.
"Não teria dado certo para a nossa história", diz Joe Letteri, vencedor do Oscar de efeitos especiais pelo "King Kong" de Peter Jackson e supervisor sênior de efeitos visuais em "Planeta dos macacos: a origem". "Precisamos ver os primatas evoluindo, especialmetne Caesar [nome do símio interpretado por Serkis], que parte do chimpanzé que conhecemos até se tornar uma criatura com inteligência evoluída. Na essência, [os atores] tinham que atuar como alguma coisa um pouco além de macacos, mas ainda assim se parecerem com macacos", explica Letteri.
Serkis se tornou um hábil observador do comportamento de primatas depois de estudar os gorilas para seu papel como Kong com pesquisadores em Ruanda.
Ainda que a performance de Serkis pareça extremamente realista, o filme original de 1933, estrelado por Fay Wray, ainda é considerado um triunfo artístico - mesmo datado, ainda é capaz de encher os olhos. Aquele Kong foi criado usando animação em stop-motion, em que a marionete de gorila era movimentada meticulosamente e filmando quadro a quadro.
A animação em stop-motion também foi usada para o grande gorila do filme "O monstro do mundo proibido" ("MIghty Joe Young"), de 1949. No remake de 1998 - rebatizado de "Poderoso Joe" -, foi usada uma mistura de marionete mecânica, efeitos de computador e um ator em uma fantasia de gorila.
Já a versão de "King Kong" de 1976, estrelada por Jeff Bridges e Jessica Lange, conquistou o Oscar de efeitos especiais daquele ano com um híbrido de homem em uma roupa de gorila e outras cenas filmadas usando um Kong mecânico gigante.
Os filmes-B têm um longo histórico de empregar atores vestindo fantasias toscas de primatas, mas quando bem feitas essas roupas se tornam incrivelmente efetivas.
O mestre das fantasias de gorilas de Hollywood é Rick Baker, cujos créditos aparecem no "Planeta dos macacos" de TIm Burton, na versão de 1976 de "King Kong" e no drama de 1988 "Na montanha dos gorilas", estrelado por Sigourney Weaver. Baker também foi indicado ao OScar por "Poderoso Joe", de 1988, e "Greystoke: a lenda de Tarzan", de 1984.
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